Rota 2012: A quem vai sair a espiga raínha?



No próximo sábado, 22 de setembro, vai realizar-se uma desfolhada e malhada do milho partilhada com o público, na Quinta do Carvalhal, em Coucieiro (Vila Verde). Organizada pela Associação de Freguesias do Vale do Homem, esta atividade agrícola insere-se na programação turístico-cultural do município de Vila Verde, Na Rota das Colheitas, e visa promover e perpetuar as tradições ancestrais ligadas ao mundo rural.




A apanha do milho está prevista arrancar ainda com o sol forte. No meio do campo, mais mulheres do que homens embrenham-se pelo meio da palha que sufoca o ar e cortam as que têm espiga. Outras preferem retirar logo a espiga e deixar a cana a secar mais uns dias ao sol. As canas cortadas neste dia, são trazidas pelo carro puxado por uma parelha de bois. Este trabalho, que requer cordenação e força, já é mais indicado para os homens, mas os géneros entreajudam-se.

Enquanto a maioria desfolha as espigas, as canas são amealhadas e preparadas para formar medas que se vão erguer grudadas a postes, alguns atingindo a dezena de metros. Um homem corajoso vai aventurar-se a subir, desafiando as alturas, e a construir a meda. É um trabalho perigoso e dos mais emocionantes de se ver nesta época de colheitas. O ambiente vai ser animado e 'pintado' pelos sons, cantares  e trajes típicos dos Tocadores de Concertinas de Coucieiro e pelo Rancho Folclórico de Marrancos.

As espigas, que no próximo sábado serão desfolhadas, vão ser apanhadas dos campos da Quinta do Carvalhal, que fica na estrada que liga as freguesias de Coucieiro e Sande. Dezenas de pares de mãos são esperadas para a desfolhada, uma tarefa mais feminina. Numa das mais bem organizadas tarefas agrícolas que a fase das colheitas contempla, a desfolhada prova quão perfeita é a natureza e quão fundido na sua harmonia o homem está.

Depois de desfolhadas, as espigas são transportadas em cestos, despejadas e espalhadas pela eira, para mais tarde serem malhadas. Os sortudos a quem sair a espiga raínha, cujos grãos são de um vermelho intenso e profundo, vão ter que cumprir a tradição, e dar um beijinho a todos os presentes neste árduo, mas alegre trabalho agrícola. É um dos momentos de descontração e aimação que a desfolhada contempla. 

O outro momento da tarde será a malhada, destinada a ser feita por braços fortes. O grão salta da espiga a cada estonada, formando uma pequena 'duna' de milho. Nos intervalos, as mulheres tratarão de crivar o milho, separando o lixo orgânico do que futuramente será farinha e alimento para as aves de capoeiro. "Na natureza, nada se perde, tudo se transforma", terá dito Lavoisier, mas se não fosse ele, qualquer homem sábio da lavoura o teria verbalizado.

Para além de trabalho árduo, recordar modas antigas e brincadeiras para atenuar a dureza da jornada, haverá ainda farnel para toda a gente: pataniscas de bacalhau, broa de milho e centeio, água pé e vinho verde da região, servido de forma típica, em loiça de barro e cestos de vime.

Esta atividade contará com a presença de personalidades do executivo do município de Vila Verde, o presidente da Associação de Freguesias Vale do Homem e presidente da Junta de Coucieiro, José Pimentel Silva, e ainda outros presidentes de junta da associação, para além de figuras de proa ligadas ao poder local.

O convite está feito: venha procurar a espiga raínha!


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