Visita guiada pelo micro cosmos da Bienal de Arte

Agora que já passou quase um mês desde o encerramento da Bienal, está na hora de proporcionar uma visita guiada àqueles que não tiveram a oportunidade de vê-la, ao vivo, ou simplesmente não fizeram caso dos conselhos que fomos dando. Depois de verem as imagens que se seguem, temos a certeza que vão chorar 'baba e ranho'. Bem feitos... Em 2014 há mais...



Era uma vez uma linda Bienal de Arte, realizada em Vila Verde, que à sétima edição atingiu um novo patamar artístico. Com outra maturidade fez-se 'menina e moça' e distingiu um artista emergente, Leonel Coelho, com um vídeo-instalação tão sublime quão assombroso tal a sensibilidade do conceito. A obra chama-se 'Insomnia' e brevemente dedicaremos um 'eco profundo' à mesma e ao seu autor, o Leonel.

A Biblioteca Municipal de Vila Verde acabou por revelar-se um cenário muito mais humanizado do que um 'avant-garde' fundo subterrâneo de estacionamento semi-estreado. A Diviminho realizou um trabalho excelente ao criar ambientes. Ao todo podemos dividir em quatro os espaços encontrados: a receção, o hall e depois duas salas: uma claramente luminosa e solar, e outra notívaga e 'câmara escura'...

Gostamos mais da solar, por nos revelar o reflexo (literal) do que a liberdade e a vontade podem fazer a uma Grade Anti-Motim (um das menções honrosas, de Jérémy Gomes de Carvalho); uma banheira retro milimetricamente 'esculpida' a sabonetes, e um rasgo de humor negro de um pobre estudante do ensino superior, que falecera a tentar alcançar a licenciatura e do qual só restava mesmo... a lápide.

E por falar em morte... Ali jazeu um vulto jovem durante 14 dias, numa autentica urna fúnebre, num ambiente lúgubre de capela a meia luz. A representação humana, feita de cera, em tamanho real e recorrendo ao detalhe, conseguia causar um ligeiro arrepio a quem atravessasse aquele espaço. Um tipo de arte de sensações.

À medida que íamos transitando de ambientes, a luminosidade ia diminuindo até chegar-se à escuridão total. Depois de assitir a uma homenagem à coragem dos pescadores com uma instalação de restos de embarcações, das quais só sobrara o nome e as tábuas, com uma vela feita com rede e um monitor a reproduzir a nauseante ondulação, mergulhamos na verdadeira escuridão para assistir a um momento verdadeiramente mágico. Três minutos que sentimos escaparem-se entre os dedos, com a já referida obra 'Insomnia,' de Leonel Coelho.

Esta é a fase mais 'tumultuosa' da exposição. Um profundamente entristecido retrato, do que parece ser o primeiro ministro, Paços Coelho, numa tela minuscula que ocupa toda uma parede, mereceu o Prémio Revelação para Diogo Carvalho Pinto, com 'Untitled'. E de uma 'arvore' de lâmpadas de cera, passamos para outra camara escura de exibição das curtas, como a 'Geração Perpétua' do vilaverdense Hélder Lopes.

Regressamos e somos encantados pela obra 'naif' de Fátima Santos Moura e a sua 'Menina dos lábios pintados a brincar com bibelôs', outra das menções honrosas, para de seguida entrarmos no reino animal. Da luta de galos pelo poleiro, com peito humano, passamos para o universo do melhor amigo do homem! Aqui encontramos as três obras admitidas a concurso d'A Bienal na Escola. Um misto de ternura e humor invede-nos o espírito, por vermos que a amizade é reciproca e revelada com o respeito que este animal merece. Bicho esperto, o homem :)

A exposição culmina com obras 'apocalíticas', como um cristo invertido,' pregado' numa dupla tela de vidro, a impressionante tela monocromática que mereceu também uma menção honrosa, uma peça de design mobiliário inspirada na renda de bilros, e uma sátira com a obra Mona Lisa, de Da Vinci, com duas telas em que a senhora regorgita vertiginosamente.

No hall foi posicionada uma instalação com uma mensagem forte sobre o 'saneamento' da sociedade, construída pela autora num par de dias. Ao lado 'batia' um coração humano moldado com o que restava de uma estutura de arame assemelhada a um colchão.


As grandes telas foram guardadas para este espaço: obras negras como humanos repousando em paz, crianças puxadas por espetros, dois adãos no paraíso tocando-se, um gigante retrato a óleo, e outras pequenas obras que se iam encontrando pelas escadas acima ou abaixo, conforme se suba de encontro à exposição, ou de desça, despedidno-nos dela: uma peça de vestuário conceptual e multiuso, um animal altivo construído em arame, dopis pendões com uma mensagem sarcástica...

À entrada, na recepção, a primeira das Menções Honrosas: um candeeiro gigante formado por um amoltoado de tijolos de cimento, que mais não são do que peças de esponja e uma série de impressionantes drafts..



Gostaram da viagem relâmpago?
É bom ter cultura deste nível e de forma gratuita em Vila Verde...

Daqui a dois anos há mais.




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